quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quinta feira à noite

Quinta feira à noite
O som da chuva abafado pela janela fechada
Mário de Andrade se insinua no papel branco...
Inesperadamente...plec!
A mariposa
Que ousadia!
Caminhando em círculos
Desafia minha leitura
Peteleco!
“Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim”
Bzzz...
“Na escuridão ativa da noite que caiu...”
...Plec!
Seguro o livro com ambas as mãos
Sacudo-o para o lado...suspiro...
Meus olhos retornam ao papel
Onde estava mesmo?
Ah, sim, no descobrimento
Meus olhos se deparam novamente com aquelas asinhas
Parecem ter vida própria
Pressiono com meu dedo indicador as asinhas contra o papel
As patinhas se vão, as asinhas ficam.
Um sopro de leve resolve esse último impasse.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sem tempo



Tento quando penso
Penso tanto que enlouqueço
Tendo tempo penso atento
Já sem nenhum talento

Escrevo o que não penso
O que penso é que não sei
Se não escrevo é que esqueço
Tudo o que pensei

Certamente um dos livros retirados da estante dos “Livros Que Você Procurou Durante Vários Anos Sem Ter Encontrado”


Incompletude. Talvez essa palavra possa dar conta do romance "Se um viajante numa noite de inverno, de Ítalo Calvino. Uma colagem de fragmentos aparentemente sem conexão revela uma história exterior. A impressão inicial compartilhada pelo leitor-personagem e pelo narratário (no caso, cada um de nós leitores) diante do texto é de frustração e ansiedade com a interrupção da narração de cada fragmento de um novo romance que (apenas) se inicia, pois “a narração, a ponte, não está terminada: sob cada palavra resta aberto o nada” (pág.80)


Uma das possíveis leituras a serem feitas do romance de Calvino é como um ensaio de crítica literária. Percebe-se isso, por exemplo, na leitura do primeiro dos fragmentos, que intitula ao livro - “se um viajante numa noite de inverno” - no qual o narrador atua como um diretor de cinema apontando as possibilidades dos acontecimentos a partir de ângulos diversos, ou ainda quando o narrador dirige a conversa entre o Leitor e a Leitora. É crítica literária também ao problematizar questões como editoração, plágio, tradução e censura.


O que mais salta aos olhos nesta obra, porém, é a apresentação dos diversos tipos de leitores e leituras representados em alguns dos personagens: o Leitor, na incessante busca da completude do romance; Ludmila, leitora da fruição, do encantamento, em um exercício lúdico que não pode ser contaminado por informações extra-textuais; Lotaria, que, contrastando com Ludmila, faz uma leitura quantitativa e analítica dos romances, utilizando os textos como pretextos par estudos acadêmicos e o surpreendente Inério, personagem que “aprendeu a não ler” e outros. Cabe a cada leitor exterior identificar-se com um ou vários desses tipos de leitores.


Observa-se também o trabalho de criação literária peculiar deste romance de Calvino, no qual reina a polifonia e a participação efetiva do leitor atuando como protagonista do romance. Porém, essa participação não é uma escolha do leitor, mas quase que uma ordem, na medida em que o narrador o caracteriza como personagem da história, atribuindo-lhe personalidade, sentimentos e hábitos de um modo que não lhe resta outra alternativa a não ser aceitá-los para que possa continuar a leitura. Assim, o Leitor, não representa um grupo de pessoas (no caso nós, leitores de Calvino), mas sim, cada um de nós individualmente.


Se fosse possível, certamente cada leitor do “se um viajante” tomaria para si um dos fragmentos com o qual mais se identificou para finalizá-lo tranquilamente. De preferência, sentado em uma confortável poltrona com os pés para cima. Pois, com certeza o livro “Se um viajante numa noite de inverno” faz parte dos “Livros Que De Repente Lhe Inspiram Uma Curiosidade Frenética e Não Claramente Justificada”.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Abrindo a gaveta

Quem me conhece sabe que não sou tão adepta às tecnologias nem às milhares de novas ferramentas da internet (até hoje não saquei "de qual é" a do twitter). Comigo é papel e caneta. Mas....sim, eu estou montando um blog. Sempre achei um pouco vazio escrever pra guardar na gaveta e por isso, resolvi abrir a minha gaveta aqui, ou pelo menos parte dela...
Bom, estou aqui também pela simples vontade de escrever mesmo. E compartilhar. Provavelmente não será algo que vá durar eternamente. Só até eu perder a paciência (ou a inspiração).

Enjoy it!

“Todo escritor acredita na valia do que escreve.
Se mostra é por vaidade. Se não mostra é por vaidade também"
(Mário de Andrade)